INTERVENÇÃO EM EDIFICAÇÃO PATRIMONIAL EM URUSSANGA

Trabalho apresentado à disciplina de Patrimônio II, na sexta fase do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense e cujo resumo faz parte dos anais da Semana de Ciência e Tecnologia, realizada em outubro passado na mesma instituição.

Autores: Francis Jr. Barbosa da Silva, Joanna S. Damian e Monike T. Pavan.

Orientadora: Prof. Ma. Aline E. Savi

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O patrimônio histórico e artístico materializa e torna visível o sentimento evocado pela cultura e memória e, permite a construção das identidades coletivas, fortalecendo os elos das origens comuns, passo decisivo para a continuidade e a sobrevivência de uma comunidade. Além desse aspecto de construção da identidade, a noção de patrimônio histórico e cultural diz respeito à herança coletiva que deve ser transmitida às futuras gerações, de forma a relacionar o passado e o presente, permitindo a visão do futuro. Uma das representações patrimoniais são os conjuntos urbanos. Na região sul do estado de Santa Catarina, a forte herança dos imigrantes italianos deixou marcas na ocupação do espaço e nas arquiteturas. Uma dessas cidades com importância patrimonial é Urussanga, que recebeu seus imigrantes por volta do ano de 1878. Nesse período, definiram prioridades para a vida em comunidade, com a criação de uma igreja, escola, hospital e comarca. A praça, inicialmente um terreiro, organizou o desenho urbano e a posição dos edifícios no entorno. Entres estes está o Casarão Nichele, construído em 1907 e registrado no livro de tombo estadual. Suas características são da arquitetura ítalo-brasileira, servindo de moradia e comércio para a família, até na contemporaneidade, tornar-se museu municipal, academia, depósito e hoje, estar abandonado. Acerca desse universo, o resumo apresenta o trabalho de intervenção nesta edificação patrimonial, com o objetivo de resgatar o diálogo da mesma com o entorno e a cidade, além de sua memória e história, por meio da criação de um anexo. Trata-se da apresentação do trabalho final realizado na disciplina de Patrimônio II, na sexta fase do curso de Arquitetura e Urbanismo. A metodologia de trabalho organiza-se em duas etapas. Na primeira, foi realizado inventário arquitetônico (metodologia baseada no IPHAN) com o intuito de: localizar o edifício no recorte urbano, sua história, suas características estéticas e construtivas, além de seu estado de preservação e conservação. O resultado foram relatórios textuais e peças gráficas (plantas e elevações). A segunda parte do trabalho baseou-se na proposição de diretrizes projetuais para dar novo uso ao patrimônio histórico e na criação de um anexo com linguagem contemporânea, permitindo o diálogo entre os períodos históricos, a partir da arquitetura. Dessa maneira, foi proposta a retirada de elementos arquitetônicos poluentes da fachada do Casarão (toldos plásticos e fiação), definidos critérios para sua restauração e no edifício anexo, proposta uma linguagem arquitetônica que não interferisse nas fachadas frontal e laterais, inclusive respeitando suas alturas. Para reconecta-la com os usos atuais da cidade, a sugestão foi um edifício que proporcionasse o convívio e encontro através da gastronomia e assim, valorizasse o patrimônio imaterial existente. Foram posturas projetuais: a intervenção “abraçar” o edifício original e utilizar linguagem arquitetônica contemporânea, diferenciando o novo do antigo. Trazer o edifício ao “alcance dos olhos”, permite lembrar a sociedade (simbolicamente) que é seu direito e dever o uso da edificação e a valorização de sua história social.

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CENTRO DE CULTURA E LITERATURA EM COCAL DO SUL

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Artigo com base no Trabalho final de graduação realizado pela Arquiteta Lays Juliani Hespanhol e orientado pela Professora Aline Eyng Savi.

Evento de apresentação:  5º Seminário Ibero-americano Arquitetura e Documentação
Promoção do evento: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS-BRASIL)
Local: Belo Horizonte / MG / Brasil
Data: 24 a 26 de outubro de 2017

http://www.forumpatrimonio.com.br/arqdoc2017/

Resumo:

Incentivar a cultura literária, é aumentar o nível de educação, informar o indivíduo e ajuda-lo a evoluir intelectualmente, dando-o liberdade criativa. Nos dias atuais, acontece o contrário, vem aumentando estatisticamente a desvalorização deste hábito que promove empobrecimento do intelecto, a queda na educação e a perda da visão de mundo. A cultura e a literatura estão interligadas, mas esquecidas e abandonadas em grande parte dos municípios brasileiros. Neste ponto entra em destaque, a falta de equipamentos públicos culturais de qualidade. Em Cocal do Sul, a realidade não é diferente. O município, situado no sul de Santa Catarina, sente a falta de qualidade nos seus poucos equipamentos públicos culturais. O Centro de Cultura e Literatura está localizado numa edificação educacional particular, fechada em determinados dias e horários, restringindo o acesso da população ao acervo histórico e literário. Criar espaços culturais e de diversificados usos, variando o programa de necessidades comum de um Centro de Cultura e Literatura municipal na área central da cidade de Cocal do Sul foi o objetivo geral deste trabalho final de graduação. O projeto visa reintegrar a edificação de interesse histórico e patrimonial Palazzo Búrigo com a cidade, pela modificação do seu uso e inter-relação com edificação nova projetada. O Palazzo foi edificado em 1906, com arquitetura que remete a região de Sorvezene na Itália. A estrutura da edificação consiste em alvenaria de pedra granito assentadas e argamassadas com barro e cal, resultando em paredes estruturais de cerca de 60 cm de espessura. No porão, destacam-se os arcos plenos de pedra de cantaria. A edificação apresenta elementos decorativos fortes. A intervenção propõe a mudança do seu uso. As demais alterações são físicas em sua fachada e estrutura, resgatando as características originais. Muitos anexos foram feitos ao longo dos anos e que não possuem valor estético e histórico. Segundo as teorias de Boito, deve-se evitar acréscimos e renovações e se forem necessárias, devem ter caráter diverso do original, mas sem destoar do conjunto, o que não ocorria no Palazzo.  Como conceituação da proposta, destaca-se o contraste por oposição, visando a legibilidade dos espaços e unidade do conjunto, respeitando a principal contradição que é o tempo (passado e presente). A implantação é composta por dois edifícios: o Palazzo e o centro de cultura e literatura municipal conectados por uma passarela. Em busca da legibilidade dos volumes e da unidade do conjunto, destacou-se a principal diferença de estilos arquitetônicos, marcando a passagem do tempo. Com isso algumas contraposições são utilizadas para a elaboração da volumetria da edificação nova destacadas entre: o peso e o leve; o liso e o texturizado; o cheio e o vazio; e o principal deles: o novo e o antigo. O cuidado com a edificação de interesse histórico patrimonial, está relacionada com o marco histórico da paisagem urbana, reavivando a memória coletiva.

Palavras-chave: Cultura; Biblioteca; História; Patrimônio; Cocal do Sul.

 

Para você conhecer o trabalho na íntegra, acesso o link:

https://drive.google.com/file/d/0B5BRCZSlmdJGZnR1bHVHNHZrSG8/view?usp=sharing

O DESMANCHE DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL NO CENTRO DE CRICIÚMA

Texto do Prof. Doutorando Gustavo Rogério de Lucca , do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense.

O acervo industrial – que também inclui as vilas operárias -, em conjunto com os tipos patrimoniais tradicionais, permite legitimar a importância da classe operária no processo de produção da cidade (JEUDY, 2005). Mais ainda, estimula a compreensão da vida social em seu conjunto.  No caso de Criciúma, as grandes e médias plantas fabris mapeavam a distribuição das atividades produtivas no território e se constituíam em verdadeiros arquivos da produção urbana da segunda metade do século XX, quando a cidade diversifica sua matriz econômica e constrói, através da indústria, novos imaginários e signos identitários. O apito e o odor das fábricas que frequentemente eram ouvido e sentido nos bairros centrais, a relação da grande empresa com a comunidade a sua volta e a sobriedade imponente da planta industrial sobre a paisagem, numa cidade em que a população tem fortes vínculos com a história operária, são alguns dos elementos que compõem as memórias e a construção coletiva da identidade de Criciúma.

O resultado da desindustrialização é o terreno vago (SOLÁ-MORALES, Ignasi, 2002). Nos últimos anos, a demanda por terrenos maiores e bem localizados, ideais para a implantação de supermercados ou lojas de departamentos, estimulou a renovação das áreas industriais próximas ao centro, de modo que tornaram mais frequentes as demolições e as descaracterizações dos acervos mais representativos. O caso mais emblemático é o da cerâmica CESACA, a primeira grande indústria da cidade, marco visual e elemento estruturador da malha viária na porção oeste do centro urbano, onde se desenvolveu, a partir da década de 1940, uma frente de expansão com usos predominantemente industriais. Por décadas, a CESACA foi um dos signos do desenvolvimento e do cotidiano da diversificação econômica da cidade. De suas linhas de produção, saíam peças que se destacavam nos edifícios mais importantes da área central, a exemplo dos azulejos nas fachadas da Catedral São José, recentemente retirados, e do Palácio do Estado, também removidos. Afetada por adversidades econômicas, fechou as portas em 1995 e, no ano de 2001, a expectativa de negociação do terreno com a rede varejista Americanas condenou o imóvel à demolição (Figura 01). Configurou-se, a partir daí, em pleno centro da cidade, um grande vazio urbano, até hoje subutilizado. Fato semelhante se deu com a planta do Curtume Dal-Bó, localizado no Bairro Santa Bárbara, área próxima ao centro da cidade que foi profundamente transformada com a construção de plantas fabris no período de diversificação industrial. A horizontalidade e o estilo modernista típico da industrialização dos anos 1950, ainda relativamente preservado até os anos 2000, não foram suficientes para aprimorar a percepção e a atuação das escassas políticas patrimoniais locais para além dos monumentos de maior obviedade. Apesar de diversas experiências de inserção de novos usos em antigas instalações industriais no Brasil e exterior, entre as quais se destaca o emblemático SESC Pompéia/SP de Lina Bo Bardi, o imóvel foi demolido após a negociação do terreno com uma das grandes redes supermercadistas da região. Mais ainda, percebe-se que, ao destituir abruptamente o patrimônio de grandes proporções, todo o contexto do lugar, antes centralizado pelo vínculo forte da grande empresa, se transforma. Transforma-se bruscamente a paisagem, valoriza-se o solo pela reprodução da localização e tornam-se mais vulneráveis as edificações menores, que, se antes configuravam um conjunto entre sobrados de uso misto e pequenas plantas industriais, hoje sobram descontextualizadas, hostilizadas pelo espaço desordenado à sua volta.

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Figura 01– CESACA na década de 1970 e sua demolição em 2001. Fonte: Arquivo Histórico de Criciúma; Foto de Édson Gregório, acervo de Marli Costa e Maurício Camara, 2001.

Além das demolições, o processo de renovação nas antigas áreas de predominância industrial estimulou intervenções de todos os tipos para a adaptação dos imóveis aos novos usos, geralmente destinados ao comércio varejista ou à prestação de serviços. Até o início da década atual, resistia nas proximidades do terreno onde já foi a CESACA a planta do Pastifício Fio de Ouro, outro remanescente da arquitetura industrial modernista nas áreas de expansão do centro da cidade (Figura 02). Recentemente, reformas pouco criteriosas à história destruíram elementos característicos da arquitetura criciumense da metade do século XX, a exemplo dos azulejos na fachada, que se mantinham preservados e que poderiam ser mantidos sem comprometer as novas demandas de uso do imóvel. Não se trata, evidentemente, de congelar a cidade ou de restringir novas possibilidades e atualizações arquitetônicas, mas de reconhecer que as heranças ainda presentes na paisagem são direitos e bens coletivos, cenários de memórias, documentos históricos que registram a diversidade construtiva do processo de produção da cidade e que, na condição de raridade, deveriam ser mantidas. Sem quaisquer resistências ou políticas moderadoras para integrá-los com os novos usos, a cidade perde seus detalhes, seus vínculos identitários da paisagem e, tal como tantas outras pelo país, vai se homogeneizando e se padronizando à estética empobrecida do consumismo como fim em si, que relega a arquitetura ao fundo de letreiros de todos os tamanhos ou aos novos materiais de fachada, que, ditados pela moda, se espalham pelos edifícios uniformizando o que antes era distinto.

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Figura 02 – Extinta área industrial no centro de Criciúma. Nota: 1 – Pastifício Fio de Ouro / 2 – Prefeitura (sede até 1980) / 3 – CESACA. Fonte: Arquivo Histórico Municipal Pedro Milanez, Criciúma.

REFERÊNCIAS:

JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das Cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005. 157 p.

SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Territorios. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. 204 p.

O CENTRO CULTURAL JORGE ZANATTA COMO UM ESPELHO DA CIDADE

Texto do Professor, doutorando, Gustavo De Lucca, do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unesc.

Quando não se compreende a cidade como um projeto de vida coletiva, flerta-se com o empobrecimento constante dos espaços sociais e com a renovação de áreas de interesse histórico. Paisagens que espacializam a construção da cidade e as memórias da comunidade logo se fragmentam, às vezes irreversivelmente. Fragilizadas e sem efetiva preservação, sobrevivem sem garantias de permanência, permeando a falta de ações da administração pública e o que sobra do vigor das pressões imobiliárias.

Largado por anos à própria decomposição, recentemente o edifício que abrigou o Centro Cultural Jorge Zanatta amanheceu sob a calamidade de um incêndio. Não fosse a própria tragédia das chamas, já a seria enquanto produto de anos de descaso. Em imóveis históricos, o abandono e a demora por ações costumam ser implacáveis e conspiram para seu rápido desaparecimento. Assim, como um espelho da cidade que o envolve, o Jorge Zanatta reproduz em si o poder econômico, as demandas e as fragilidades urbanas ao longo das épocas.

Foi construído lá nos anos 1940 sob um quadro de consolidação de Criciúma como a “capital do carvão”. O minério que fazia circular riquezas também atraiu a presença física do Estado, neste caso constituída por uma edificação administrativa para o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) e algumas residências para os seus funcionários que, juntas, contribuíram para configurar a Praça do Congresso e a urbanização em seu entorno. Sobre um aclive na rua Cel. Pedro Benedet, no estratégico endereço entre a Praça Nereu Ramos e o Hospital São José, tornara-se um dos símbolos do poder e da solidez da economia carbonífera em Santa Catarina. Destacava-se na paisagem central pela imponência produzida por sua escala, pelos afastamentos que o diferenciavam das demais edificações da rua e pela rígida simetria arquitetônica de suas arcadas e acessos – linhas que mesclam a rigidez de influências clássicas e neocoloniais com a generosa permeabilidade entre os setores internos e os jardins.

Ao longo das décadas, transformações econômicas do país e da cidade o condicionaram adaptações. Além de sede regional do DNPM, também acolheu o Conselho Nacional do Petróleo, serviu de cárcere a presos políticos no Regime Militar e, enfim, com a retomada da democracia, estampou-se como símbolo da Fundação Cultural de Criciúma. Nesse processo, a renovação do centro da cidade o apequenou, contornou-o com escalas construtivas incompatíveis que o restringem a insolação e o merecido destaque na paisagem. Mesmo que reconhecido como bem histórico municipal, desde 2013 a falta de manutenção tornou insustentável a sua ocupação. A partir daí a história recente é de todos conhecida. Vazio, fragmentado e sem a vida cultural que um dia ocupou suas salas e jardins, o Jorge Zanatta representa o atual descaso com a cultura e com os acervos históricos de Criciúma. É o espelho da cidade e das promessas não cumpridas. Salvá-lo com urgência do permanente desaparecimento seria refletir em suas paredes uma cidade um pouco melhor.

  • Publicação original no Jornal A Tribuna, em 28/09/2017.

O templo centenário…

Texto dos acadêmicos Gabriel Eufrásio Nunes e Paulo Henrique Ronconi Honorato, realizado na atividade de inventário de arquiteturas, da disciplina de Patrimônio II, no curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC. Orientação da Prof. Aline Eyng Savi.

A Catedral São José completa seu centenário. Construída em 1917, marca a paisagem urbana do centro de Criciúma. Além de ter sido palco de muitos episódios sociais e políticos, como o conflito entre mineiros e policiais na década de 1980. Por essa razão considera-se patrimônio histórico e cultural do município, mesmo após intervenções que alteraram características arquitetônicas, da linguagem à volumetria.

A construção reflete aspectos da cultura dos imigrantes italianos, que muito religiosos, erguiam capelas e igrejas, tão logo ocupavam o território. Neste caso, os recém-chegados italianos, marcaram a fé católica do núcleo “São José de Cresciúma”, com o edifício. Registra-se que o primeiro templo era de madeira e posicionava-se no lado oposto ao local atual, onde hoje está outro edifício de interesse histórico: a Casa da Cultura. Logo, o pequeno templo se tornou pequeno e foi iniciado o processo para construção da Igreja São José.

A escolha do novo local foi motivo de controvérsia e conflitos entre duas famílias importantes da época, ambas comerciantes. Cada uma delas queria a honra de doar o terreno. A família do Sr. João Batista Targuetta gostaria que a igreja ficasse onde hoje se encontra o Colégio Lapagesse. Enquanto, o Sr. Pedro Benedet pretendia que ficasse em suas terras, onde hoje está o castigado Centro Cultural Jorge Zanatta. Segundo conta a história, a decisão do Padre foi para apaziguar o conflito, escolhendo um terreno no meio desses dois, coincidindo com o lado oposto do templo de madeira.

As obras da futura Catedral iniciaram em 1907, com recursos da comunidade local e vindos da Itália. Em 1917, foi inaugurada com missa presidida pelo Padre Francisco Bertero, primeiro pároco.

A arquitetura já passou por diferentes intervenções, mas mantém fortes referencias estéticas trazidas do estilo românico e gótico tardio. Em 1926, foi ampliada a torre sineira direita. Em 1946, em razão do Congresso Eucarístico realizado na cidade, teve as duas torres igualadas em altura e foi inserido o nártex frontal. Em 1976, por conta de mudanças na liturgia católica, houve novas reformas para adequação, com a participação do arquiteto Fernando Carneiro. Foram ampliados o púlpito para suportar o coro e o órgão de tubos. Houve mudança na posição das imagens, colocadas em diferentes pontos, exceto o padroeiro São José que foi mantido no local. Na parte externa, a igreja foi revestida com azulejos, cujo padrão foi criado especialmente pelo arquiteto, para o edifício. Registra-se que a opção pelo revestimento coincide com o momento econômico da região que produzia tal produto em escala nacional. Em 2005, houve nova reforma e ampliação para agora acomodar a Catedral, que foi concluída em 2011. No centenário, para consagração em seu centenário, ainda foram necessárias pequenas reformas na iluminação externa.

Como elemento constituinte da paisagem da cidade, é símbolo forte do poder da fé católica e também, da sociedade que historicamente contribui para construção do símbolo. Dessa forma, embora muito modificado, o edifício emerge como patrimônio histórico e cultural não pelo valor da sua arquitetura, mas pela importância na história, memória e identidade da sociedade criciumense.

Capela Santa Ana – Siderópolis/SC

Começamos uma série para apresentar os encantos da arquitetura de interesse histórico-patrimonial no sul do estado de Santa Catarina.  Sejam bem vindos!

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A Capela de Santa Ana, na comunidade de Rio Albina no interior da cidade de Siderópolis, é um dos exemplares da arquitetura dos imigrantes italianos no sul de Santa Catarina. Foi construída em madeira no ano de 1897 e em 1928, edificada em alvenaria mista, com tijolos cozidos e baldrame em pedra bruta, assentados e revestidos com argamassa de barro e cal.

A dimensão pequena de sua planta-baixa (8,70 x 4,20 metros, composto por nave e altar) e os ornamentos na fachada são os destaques externos. Há influência do estilo gótico, a partir dos arcos em forma de ogiva e dos pináculos nas bordas. Internamente, ainda guarda um altar em madeira, original.

Apesar da importância histórica do conjunto, houve um período de abandono, que culminou em perda da cobertura original (telhas e madeiramento) e de parte dos ornamentos externos. Apenas nos anos 2000, houve a iniciativa de recuperação, com interferência da comunidade local, do poder público municipal e da Associação Bellunesi Nel Mondo – Família de Nova Belluno. Estes requereram a reforma da capela junto à Indústria Carbonífera Rio Deserto Ltda., que como forma de compensação por minerar carvão nas proximidades, realizou as obras.

Passados quase vinte anos dessa última grande intervenção, registra-se que a capela se encontra em razoável processo de conservação. As maiores patologias são provocadas pela umidade, justificada pela técnica de recuperação que considerou questões estéticas e não construtivas da edificação.

Hoje, a capela encontra-se fechada e é utilizada ocasionalmente para eventos religiosos. Tal situação infelizmente é extremamente prejudicial a qualquer bem de interesse patrimonial. Afinal, o patrimônio histórico e artístico materializa e torna visível o sentimento evocado pela cultura e pela memória e, permite a construção das identidades coletivas, fortalecendo os elos das origens comuns, passo decisivo para a continuidade e a sobrevivência de uma comunidade. Quando esquecido ou pouco utilizado, como é o caso da Capela Santa Ana, corre-se o risco da perda do sentimento de pertencimento, fundamental para a preservação, especialmente de monumentos isolados.

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Contribuição de:

Allana Carolina Fries, Bruna Boza e Jesley Adrieli Savaris

Alice Bortoluzzi, Igor Costa Freitas e Juliana S. Crocetta

INTERPRETAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL URBANO-ARQUITETÔNICO DE CRICIÚMA

Resumo do artigo publicado no ICOMOS BRASIL 2017, pelas acadêmicas Liliana Esteves, Julia M. Dal Molin e Lays J. Hespanhol, orientados pela Prof. Msa. Aline Eyng Savi. O trabalho é fruto das discussões na disciplina de Patrimônio I, no curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC.

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O legado transmitido de gerações por gerações, seja ele um conjunto de bens materiais ou imateriais, tem o papel de contar a história de um povo e de formar a sua identidade. Tal legado pode ser chamado de Patrimônio Cultural e, para que ele possa garantir o exercício de memória coletiva e de cidadania, sua preservação faz-se necessária. Dentre os patrimônios culturais materiais existentes, destaca-se o “urbano-arquitetônico”, que através de edificações e sítios históricos refletem uma determinada época, desempenhando um importante papel na elaboração da realidade através da manutenção, construção e substituição dos edifícios na paisagem. No entanto, como reflexo do paradigma do pensamento linear da modernidade, houve uma inversão no processo de urbanização, substituindo a preocupação do patrimônio pela supervalorização do novo. Nas cidades de pequeno e médio porte o fato se torna ainda mais nítido, porque usualmente seus patrimônios urbano-arquitetônicos encontram-se isolados na malha urbana. Criciúma, localizada no estado de Santa Catarina, Brasil, é uma destas cidades. Nela, os imigrantes italianos deixaram para a população uma herança composta por diversas construções, mas, atualmente, somente alguns permanecem. Na cidade, seu longo histórico de falta de incentivo à cultura e de cuidado com o patrimônio refletem a situação atual, onde a reconstrução de réplicas é a única política pública de preservação. Ao invés de remeter o passado da cidade e preservar sua identidade, a reconstrução cria uma imagem distanciada da realidade, podendo ter sido evitada se a proteção ao patrimônio tivesse sido colocada em prática, não somente por parte das políticas públicas, mas também por parte da população. Dentre os edifícios históricos que se mantiveram imunes às demolições, muitos se encontram escondidos por trás dos anúncios publicitários, enquanto alguns estão totalmente abandonados, comprometendo sua integridade. As reflexões apresentam a manipulação da memória coletiva como mecanismo político para impor, muitas vezes de maneira velada, novas identidades forjadas para o consumo e reforçadas pela indústria cultural de massa. O valor de uso do patrimônio é transformado em valor econômico, rompendo com o elo afetivo que une os habitantes ao lugar.

RETOMADA DE SIGNIFICADO: Recreio do Trabalhador, Siderópolis – SC

Texto das acadêmicas Jesley Adrieli Savaris e Monique Potrikus Castanhetti na disciplina de Patrimônio I, orientadas pela Prof. Msa. Aline Eyng Savi, no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense.

 

Imagem1A carta de Restauro que surgiu em 1972, prevê que qualquer obra, seja ela arquitetônica ou não, em seu plano de salvaguarda deve seguir um plano específico de ações que nele consta detalhamentos sobre a conservação da obra, seu estado atual, natureza das intervenções. Numa proposta de intervenção, por exemplo, fica estritamente proibido qualquer adição de elementos por dedução que não são provenientes da obra original, remoções ou demolições que apaguem a história real da construção e alterações nos acessos e nas pátinas (ações do tempo). São aceitas intervenções quando bem justificadas e que acrescentem na edificação e sua conservação, a retomada do uso, novas ambientações ou instalações quando parte da original não existir mais ou estiver em ruínas. Sendo que nenhuma proposta poderá inviabilizar uma nova proposta de intervenção de restauro futura.

A carta discorre ainda, dividida em anexos, sobre instruções para restauro e salvaguarda de obras de arte, sendo enfatizado no artigo o Anexo B, as “instruções para os critérios de restaurações arquitetônicos”. No anexo, defende-se que manutenções realizadas no seu devido tempo, asseguram longevidade às obras arquitetônicas e nota-se que a partir disso, cada vez mais se adere à ideias de que, quando compatíveis, novos usos devem ser dados para o edifício monumental, retomando assim a vida da construção. Contudo, a obra adjacente ou o uso dado ao local, deve agredir ao mínimo à estrutura original, conservando suas formas externas, sem alterações nas características tipológicas, na organização estrutural e na sequência de espaços internos.

Nessa perspectiva, na cidade de Siderópolis, há o Bairro Rio Fiorita e seus edifícios, resultado da exploração de carvão mineral ocorrida a partir da década de 1940. Nesse período, com chegada da Companhia Siderúrgica Nacional/CSN iniciou as transformações econômicas e urbanas do ciclo do carvão. A empresa foi destruidora do meio ambiente, mas era referência para os trabalhadores, já que sua estrutura era diferenciada e oferecia melhores salários. O cotidiano da cidade transformou-se totalmente com a construção da vila operária da CSN, no bairro citado. Porém, no ano de 1991 com a baixa do carvão,  a empresa fechou suas estruturas e as entregou à prefeitura municipal. Fazem parte deste conjunto: Recreio do Trabalhador, Jardim de Infância, Campo de Futebol, Ambulatório, Clube União Mineira, Escritório e Portaria. Na época, os bens deveriam ser destinados à serviços como saúde, atividades esportivas, lazer, atividades escolares, sempre respeitando a característica do edifício. Alguns edifícios foram doados, alguns já não existem mais, e outros encontram-se em estado precário de arruinamento, como é o caso do Recreio do Trabalhador.

A edificação foi fundada em 04 de dezembro de 1952, como clube recreativo e construída em 1954 pelos próprios funcionários da CSN. A associação era um pedido dos trabalhadores e um ensejo da administração, que direcionava a objetos esportivos, sociais e culturais, indispensável na vida do morador da cidade de Siderópolis. Ocorriam diversos eventos sociais à noite, como: reuniões de funcionários, festas de natal, casamentos, aniversários e principalmente bailes, além disso, funcionava durante o dia com as salas de jogos e cancha de bocha para os associados.

Atualmente o prédio se encontra em ruínas, apesar do forte valor de identidade para a comunidade, constituindo-se um patrimônio material,  que serve apenas para evocar na memória das pessoas que o frequentavam, lembranças enraizadas na região.

Imagem2Como forma de restauro do patrimônio, o objetivo seria buscar documentos que demostrem a sua forma antiga, para a partir disso revitalizar o existente, sem acabar com o significado histórico e original que tem para a cidade de Siderópolis e seus moradores. Propondo uma retomada de atividades no local, trazendo a vida que tinha antes e assim, fazer com que a história do local não seja esquecida. Dado o estado de arruinamento, sugere-se trabalhar com a teoria de restauro do inglês John Ruskin, que valoriza o tempo como parte integrante do conjunto e dessa maneira, conservando as ruínas e não colocando o edifício em sua integridade, porque o mesmo inviabilizaria a compreensão do processo passado, criando falso entendimento de novo.

Por fim, o Recreio dos Trabalhadores representa a atual relação do país com as suas construções históricas onde há desleixo, tanto do poder público quanto da população que, por falta de conhecimento e muitas vezes, de educação patrimonial, crê que o que é antigo deve ser demolido por estar sem significado e uso. Destrói-se então, a cada descaso com o monumento, a história de várias pequenas cidades, que tinham em suas edificações as marcas do seu passado.

Referências
BERNARDO, Roseli Teresinha. Recreio do Trabalhador: um patrimônio histórico. Disponível em: <http://www.bib.unesc.net/biblioteca/sumario/000028/00002887.pdf&gt;. Acesso em: 11 de junho de 17.
RODRIGUES, Elaine; CARDOSO, Michele Gonçalves. Recreio do Trabalhador: um patrimônio em ruínas. Disponível em: <http://periodicos.unesc.net/criaredu/article/view/2854/2639&gt;. Acesso em: 11 de junho de 17.

 

CONFERÊNCIA DE NARA – NOVEMBRO DE 1994 CENTRO HISTÓRICO E CULTURAL DE URUSSANGA

Texto produzido por: Kelen Arigoni Cardoso e Patricia Cesca, quinta fase, Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Curso de Arquitetura e Urbanismo, orientado pela Prof. Aline Eyng Savi.

O principal objetivo da Conferência de Nara é respeitar a conservação e debater como podemos promover uma maior conscientização sobre a diversidade do patrimônio cultural para poder conservá-lo de maneira correta, respeitando o valor social e cultural da sociedade. Este documento foi concebido no espírito da Carta de Veneza – 1964, ampliando a visão sobre os conceitos referente ao que é patrimônio cultura e seus interesses no mundo contemporâneo. Com a globalização a busca por uma maior identidade cultural torna-se uma afirmação do nacionalismo e representação de uma cultura, a conservação e preservação entra para ajudar a conscientizar a população a não perder essa identidade, que é uma fonte muito importante para caracterizar uma cidade.

A responsabilidade pela manutenção do patrimônio, de acordo com a UNESCO, é primeiramente da sociedade onde está inserida e posteriormente daquele que a cuida. Conhecer e saber respeitar os aspectos originais dos bens, assim como as transformações feitas a partir dos anos, constituem o requisito básico para a autenticidade do bem.

A autenticidade é o fator fundamental para os estudos científicos do patrimônio, nos planos de conservação e restauração do bem cultural. O levantamento de dados deve ser realizado valorizando uma grande variedade de pesquisas e fontes de informação. Vários aspectos podem ser considerados nos levantamentos, tais como, forma, materiais, técnicas, localização, entre outros fatores. O emprego desses aspectos permite delinear as especificações do bem cultural.

A cidade de Urussanga, localizada no sul de Santa Catarina, impressiona por suas belezas naturais e por ter um dos maiores conjuntos de arquitetura dos imigrantes italianos no Estado. Os italianos tinham como característica desenvolver suas cidades ao redor da igreja principal, quando chegaram a Urussanga os primeiros imigrantes, em sua grande maioria católicos, começaram a instalar suas residências ao redor da Igreja Nª Sr.ª da Conceição, principal igreja católica do município atualmente.

As primeiras construções datam do ano de 1896-1900 e algumas ainda podem ser vistas ao redor da praça central, em ruas laterais e em comunidades rurais, essas construções receberam reformas durante o passar dos anos e algumas perderam suas principais características dependendo do uso que foi dado a elas. Ao todo o município conta com 18 edificações tombadas pelo IPHAN na zona central e 6 edificações tombadas localizadas na zona rural, além dessas outras residências também possuem características da época de colonização.

Os principais materiais utilizados para a construção das residências eram a pedra e o tijolo, materiais de fácil acesso no entorno, rebocados e posteriormente pintados, madeira e vidro foram utilizados no fechamento de portas e janelas, e os telhados recebiam acabamento de telha cerâmica, esses materiais caracterizam e deixam a arquitetura com uma maior identidade cultural de conjunto. Dentre essas construções, o Sobrado da Família Nichele é uma das principais arquiteturas do conjunto, pois sua implantação está em destaque, localizado no eixo de duas ruas de bastante tráfego essa residência além de ser construída com materiais comuns fez uso do ferro fundido nos acabamentos, dando assim um ar mais sofisticado e diferenciado a construção. Seguindo a instalação típica da época as casas foram implantadas com afastamentos laterais, o que garantia a instalação de aberturas que anteriormente não eram possíveis devido ao alinhamento lateral, e alinhadas frontalmente no lote definindo as calçadas e o traçado urbano.

No ano de 2016, o centro histórico de Urussanga começou a passar por uma reforma urbana. Essa reforma pretende melhorar a qualidade das vias e calçadas, do sistema de iluminação pública, dentre outras reformas que pretendem melhorar a cidade e consequentemente acabam favorecendo a valorização dos patrimônios que estão localizados no seu entorno, podendo assim atrair mais visitantes.
Outro fator importante que pode valorizar o patrimônio material é a grande produção e destaque do vinho que está sendo produzido no município. O vinho Goethe tornou-se patrimônio imaterial da cidade pois ele é feito somente nessa região do país, por isso a cidade ganhou o selo de Vale da Uva Goethe. Muitos visitantes são atraídos para Urussanga nos anos da Festa do Vinho e do Ritorno Alle Origini, duas celebrações culturais que acontece na cidade e valorizam a tradição e cultura italiana. As duas festas têm suas aberturas realizadas na Praça Anita Garibaldi, no centro histórico, isso contribuí para os visitantes conhecerem as residências históricas que ali estão inseridas.

Mesmo com os pontos que podem valorizar as construções históricas da cidade, muito ainda pode ser feito para que os bens ganhem mais destaque e sejam reconhecidos e valorizados pela população local e pelos visitantes. Algumas construções apresentam sinal de abandono, tanto pelos donos quanto pelo município, apresentando sinais de deterioração, a umidade é um dos fatores mais preocupantes pois danifica as paredes e estruturas. Com o novo uso dado ao imóvel alguns perderam suas características básicas, pois utilizam materiais atuais que acabam desvalorizando a arquitetura original.

Com a análise da Conferência de Nara percebe-se que a preservação dos bens deve ser realizada por todos os moradores do município, pela prefeitura e pelos donos, para que o patrimônio continue representando a cultura do município e de seus moradores. É possível incentivar a população a cuidar do seu patrimônio através de informações, aulas, oficinas e divulgações, dessa forma estaremos preservando a cultura e também a história do local, para que as próximas gerações possam ter uma ideia de como eram as construções e costumes em outras épocas. Um povo mal informado não dá valor aos bens que caracterizam suas origens, o novo e moderno acaba sendo mais importante para a população, o que leva ao descaso com as construções mais antigas.

Para conhecer melhor a cidade, vendo os lugares que são citados, visite: http://www.fcc.sc.gov.br/pagina/5273/urussanga