A cidade e o distanciamento do mar: consequências do aterro de Florianópolis

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O aterro da Ilha de Florianópolis foi realizado no começo da década de 70 e sua aplicação  alterou radicalmente a relação entre a arquitetura e o meio ambiente da cidade. Executado durante a gestão do ex-governador Colombo Machado Salles, tinha por objetivo abrir espaços para o crescimento urbano e possibilitar a construção da segunda ligação ilha-continente que leva seu nome. O projeto inicial previa a criação de uma área de 400 mil metros quadrados, com o deslocamento de 2 milhões de metros cúbicos de areia, retirada do banco de Tipitinga, no meio da Baía Sul. Assim que o aterro ficou pronto, começaram os trabalhos de construção da ponte Colombo Machado Salles, inaugurada em 8 de março de 1975.

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Ponte Colombo Salles e o aterro.

O aterro alterou a dinâmica do comércio na orla central, iniciando-se transformações urbanas no Centro Histórico, que perdeu sua identidade litorânea pelo seu gradativo afastamento do mar. O trapiche municipal “Miramar” na Praça XV de Novembro foi derrubado. Na borda urbana central, onde os barcos chegavam e permaneciam ao longo do Mercado Público e da Alfândega, constroem-se novos aterros destinados a infraestruturas viárias, como estações de ônibus e estacionamentos (ZAPATEL, 2014).

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download Mercado Público Municipal antes e depois do aterro.

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Trapiche Miramar – Original e o monumento.

Além dos danos ambientais, os aterros foram responsáveis por uma alteração radical na maneira como o sujeito passou a se relacionar com o mar, principal elemento de identidade de Florianópolis. A paisagem vazia e os modos de vida de quem viveu na cidade antes de ser aterrada, de várias maneiras, foram substituídos por projetos urbanos que têm como principal característica a falta de espaços públicos de lazer que pudessem “devolver” um pouco do espaço que lhes foi tomado.

Os motivos que levam o Estado a justificar os aterros quase sempre estão ligados ao desenvolvimento, como a construção de espaços públicos, estradas facilitadoras para o mercado e até mesmo medidas de higiene, embora os resultados pareçam evidenciar que nem tudo deu certo. No Relatório Final de Urbanização dos Aterros de Florianópolis, redigido em 1970, enfatizava-se que o projeto de aterro não desejaria “romper com a herança do passado”. Se isso, de fato, era um desejo, ele certamente foi por água abaixo. A implantação de parques, que era uma das prioridades do projeto desenvolvido por Burle Marx, deu lugar a grandes estacionamentos e não lugares (MARTINS, 1999).

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A manutenção das características coloniais de Florianópolis, por sua vez, pode ser percebida somente em alguns pontos do centro histórico. Com a especulação imobiliária, muitas construções deram lugar a grandes prédios que, de nenhuma maneira, dialogam com as edificações coloniais. Muitos bares que ficavam à beira-mar, como o tradicional Miramar, hoje não passam de monumentos inócuos (MARTINS, 1999).

Não resta dúvida que o aterro de Florianópolis é um testemunho que deve ser lembrado como um marco de transformação da paisagem que está impresso na configuração contemporânea da cidade. Cabe agora, cuidado com outras paisagens que permanecem preservadas, mas que com a falta de planejamento e controle urbano podem ter o mesmo destino.

MARTINS,  Celso. Disponível em ,< http://www1.an.com.br/ancapital/1999/fev/13/1ult.htm&gt; Acesso em 06 de novembro de 2015.

ZAPATEL, Juan Antonio. Visões Urbanas para os Aterros Marítimos de Florianópolis. Disponível em <http://www.anparq.org.br/dvd-enanparq-3/htm/Artigos/ST/ST-EPC-002-4_ZAPANEL.pdf&gt; Acesso em 06 de novembro de 2015.

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